Nos dias 25 e 26 de março, 28 voluntários da sociedade civil, servidores e agentes de todos os poderes municipais, participaram de um treinamento para atuação nos Grupos Reflexivos de Homens para Combate à Violência Doméstica contra a Mulher, o “Projeto Recomeçar”. Puderam se inscrever estudantes ou profissionais graduados nas áreas do Direito, Serviço Social e Psicologia, bem como em outras áreas de formação, desde que possuíssem o perfil para exercer o papel de facilitador. A Câmara Municipal é parceira da Promotoria de Justiça da Comarca na realização das atividades, assim como a Prefeitura Municipal, a Agência de Desenvolvimento Econômico e Social dos Inconfidentes e Alto Paraopeba (Adesiap) e a Gerdau, e sediou o treinamento no dia 25.
O treinamento foi ministrado por João Wesley Domingues, que atua no Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, na coordenação de Grupos Reflexivos para Homens Autores de Violência contra a Mulher. João Wesley tem experiência de seis anos à frente da coordenação de Grupos Reflexivos para Homens Autores de Violência contra a Mulher no Distrito Federal. Segundo ele, mais de 3500 homens já passaram pelos grupos, e as mudanças são radicais, tanto que apenas 2% daqueles que passam pelos grupos reincidem.
Para João Wesley, é possível, para além da punição de homens que cometem violência doméstica, atuar para interromper a perpetuação das crenças que geram o comportamento agressivo. Os Grupos Reflexivos para Homens Autores de Violência buscam a mudança de crenças perpetuadoras de violência contra a mulher e, por consequência, a diminuição da reincidência e de danos às mulheres, filhos, aos próprios homens e à sociedade. O trabalho é feito buscando desnaturalizar a conduta violenta, promovendo a transformação dos padrões da masculinidade hegemônica. O objetivo é o rompimento do ciclo da violência.
De agora em diante
Para o Promotor de Justiça da Comarca, dr. Pedro Henrique Pereira Correa, a adesão ao Projeto por número tão expressivo de voluntários, denota a preocupação da sociedade ourobranquense com o combate à violência doméstica contra a mulher, de modo que podemos esperançar por menores índices de reincidência em nossas estatísticas.
João Wesley elogiou o “time” de voluntários de Ouro Branco. “Percebi que são pessoas que realmente amam a causa e que desejam contribuir para a diminuição da violência contra a mulher”, relatou. O especialista também disse que os voluntários realmente entenderam a importância dos grupos reflexivos e a importância de se trabalhar com os autores de violência para que haja uma mudança realmente efetiva. “Foi uma das melhores capacitações que já ministrei, dentre todos os lugares que já passei, por causa das pessoas, muito interessadas e que, com certeza, farão grande diferença na condução do projeto”, elogiou João Wesley, que continuará supervisionando os grupos.
Verônica Alencastro é advogada da mulher e participou da capacitação de facilitadores: “a iniciativa é fantástica e essencial para que, através de acolhimento e acesso a conhecimento possamos mudar a base de nossa cultura que por anos naturaliza a violência doméstica”, resumiu.
Durante Audiência Pública realizada em novembro do ano passado para apresentação do projeto, foram apresentados dados que demonstram que Ouro Branco precisa de iniciativas como esta: apenas no primeiro semestre de 2021 foram 159 processos judiciais nesta área. Outro dado que chama a atenção é que, segundo a dra. Cândida Assis, que está à frente da Delegacia de Mulheres de Ouro Branco há 12 anos, não há um dia sequer que um caso de violência contra a mulher não seja registrado em Ouro Branco.
Os próximos passos para a implementação do Projeto são a formação do primeiro grupo reflexivo, a seleção e supervisão online dos facilitadores, e a articulação com a Delegacia de Polícia Civil e o Poder Judiciário para o encaminhamento dos agressores aos grupos, com o início dos trabalhos reflexivos, a fim de que seja dado início à estruturação dessa política pública no município de Ouro Branco.